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Ensino híbrido: o que é e como implementar na escola

As ferramentas digitais podem colaborar com os processos de ensino e aprendizagem, porém apenas o uso da tecnologia não é suficiente. O Ensino Híbrido, que combina o uso da tecnologia digital com as interações presenciais, visando à personalização do ensino, é um modelo possível para facilitar a combinação, de forma sustentada, do ensino online com o ensino presencial.

Para refletir e verificar as possibilidades do uso dessa proposta, foi organizado um Grupo de Experimentações, parceria entre o Instituto Península e a Fundação Lemann. Os resultados obtidos indicam enriquecimento da prática pedagógica por meio do uso integrado das tecnologias digitais, motivação dos estudantes e possibilidades de personalização das ações de ensino e aprendizagem.

Neste artigo, apresentamos os depoimentos de Lilian Bacich, pesquisadora do tema e co-organizadora do livro “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação”, parceria entre as instituições citadasConfira!

O que é Ensino Híbrido?

É possível encontrar diferentes definições para Ensino Híbrido nas teorias educacionais. Todas elas apresentam, de forma geral, a convergência de dois modelos de aprendizagem: o presencial, em que o processo ocorre em sala de aula, como vem sendo realizado há tempos, e o online, que utiliza as tecnologias digitais para promover o ensino.

No modelo híbrido, a ideia é que educadores e estudantes possam ensinar e aprender em tempos e locais variados. Principalmente no Ensino Superior, essa realidade está atrelada a uma metodologia de ensino a distância (EAD), em que o ensino presencial se mistura com o ensino remoto. Em alguns casos, algumas disciplinas são ministradas na forma presencial e outras ministradas apenas a distância.

Esse seria o uso original do termo que evoluiu para abarcar um conjunto muito mais rico de estratégias ou dimensões de aprendizagem. Podemos considerar que o termo Ensino Híbrido está enraizado em uma ideia de que não existe uma forma única de aprender e que a aprendizagem é um processo contínuo.

Tecnologia e educação

O estudo sobre o uso das tecnologias digitais no processo ensino-aprendizagem não é recente na educação. Desde o final do século passado, com a introdução do uso dos computadores na escola, diversas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de identificar estratégias e consequências dessa utilização.

Algumas pesquisas realizadas sobre o uso das tecnologias demonstram sua importante influência em transformações ocorridas nas formas de aprender, de se relacionar, de construir significado e valores. Porém, muitos desses estudos, enfatizam a importância de uma reelaboração da cultura escolar para que esse novo paradigma possa surtir efeito positivo no ensino.

Isso se justifica porque muitas instituições de ensino, apesar de implementarem o computador em sua rotina, ainda têm dificuldade em modificar as formas de lidar com o planejamento das aulas.

Apesar de já estar presente em diferentes contextos diários e de ser considerada importante na educação, a mudança no contexto educacional tem sido mais lenta.

Como surgiu?

A definição de Ensino Híbrido proposta pelo Instituto Clayton Christensen é a que tem sido mais utilizada nas escolas de Educação Básica nos EUA. Ela apresenta concepções possíveis para o uso da tecnologia na cultura escolar contemporânea, uma vez que não é necessário abandonar o que se conhece até o momento para promover a inserção de novas tecnologias em sala de aula regular. Há possibilidade de personalizar o ensino por meio da utilização de diferentes recursos didáticos, tendo as tecnologias como espinha dorsal do processo.

A organização dos modelos de Ensino Híbrido (HORN & STAKER, 2012; 2015) aborda formas de encaminhamento das aulas em que as tecnologias digitais podem ser inseridas de forma integrada ao currículo e,  portanto, não são consideradas como um fim em si mesmas, mas têm um papel essencial no processo, principalmente em relação à personalização do ensino.

O objetivo foi levar os professores a experimentarem novas formas de atuação, como proposto pelo Instituto Clayton Christensen, para que fosse possível analisar até que ponto essas novas maneiras poderiam impactar nos resultados esperados em relação ao desempenho de sua turma.

Os resultados dessa reflexão sobre a prática, configurando-se em uma pesquisa-ação, foram textos elaborados pelos professores e que foram organizados em uma publicação (BACICH et al, 2015) e em videoaulas.

Principais desafios da implementação

Para uma utilização eficiente do ensino híbrido no ambiente escolar, é necessário pensar mudanças em vários níveis: infraestrutura educacional, formação continuada de professores, currículo, práticas de sala de aula; modos de avaliação, entre outros.

Verifica-se, assim, a importância da formação do professor para que ele utilize as tecnologias da informação e comunicação em sala de aula de forma integrada ao ensino, não apenas como uma maneira de substituir recursos. Se as tecnologias digitais puderem ser utilizadas para auxiliar na personalização das ações de ensino e aprendizagem, o ganho, por parte dos estudantes e do professor, será extraordinário.

A relação entre avaliação e personalização do processo de ensino-aprendizagem está no cerne da discussão sobre ensino híbrido. A avaliação vista como diagnóstico, ou utilizada no decorrer do processo e não no final de um ciclo. Dessa maneira, a inserção e a integração das tecnologias digitais decorrem dessa reflexão. Com essas informações em mãos, é possível pensar em estratégias de organização dos alunos em sala de aula, favorecendo ações de personalização.

Os modelos utilizados

Os modelos mais utilizados pelo grupo com foco no uso da avaliação como recurso de personalização foram:

Modelo de Rotação

Baseado na criação, pelo professor, de diferentes espaços de ensino-aprendizagem dentro ou fora da sala de aula para que os estudantes revezem entre diferentes atividades de acordo com um horário fixo ou de acordo com a orientação do professor.

Os espaços de ensino-aprendizagem podem envolver pequenos grupos de discussões, atividades escritas, leituras e, necessariamente, uma atividade online, propiciando para o aluno a oportunidade de busca de novas fontes de conhecimento fora do seu contexto escolar.

Nesse modelo, há as seguintes propostas:

Rotação por Estações: na qual os estudantes realizam diferentes atividades, em estações, no espaço da sala de aula;

Laboratório Rotacional: onde os estudantes usam o espaço da sala de aula e laboratórios;

Sala de Aula Invertida: considerando que a teoria é estudada em casa, no formato online, e o espaço da sala de aula é utilizado para discussões, resolução de atividades, entre outras propostas;

Rotação Individual: onde cada aluno tem uma lista das propostas que deve contemplar em sua rotina para cumprir os temas a serem estudados.

Podemos considerar que os dois ambientes de aprendizagem (a sala de aula tradicional e o ambiente virtual de aprendizagem) estão tornando-se gradativamente complementares. Isso ocorre porque, além do uso de variadas tecnologias digitais, o indivíduo interage com o grupo, intensificando a troca de experiências.

O papel dos educadores 

Com o ensino híbrido, o papel desempenhado pelo professor e pelos alunos sofre alterações em relação à proposta de ensino tradicional e as configurações das aulas favorecem momentos de interação, colaboração e envolvimento com a tecnologia.

O ensino híbrido busca o desenvolvimento da autonomia dos alunos para que possam trabalhar em grupos e compartilharem conhecimentos, utilizando tecnologias digitais como aliadas nesse processo.

Sendo assim, o ensino híbrido parte de uma proposta metodológica que impacta na ação do professor em situações de ensino e na ação dos estudantes em situações de aprendizagem, pois a troca entre os pares com diferentes habilidades e conhecimento se torna mais fluida e participativa.

Livro Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação

Os resultados completos das reflexões dos participantes do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido desenvolvido pelo Instituto Península e pela Fundação Lemann foram compilados em um livro: Ensino Híbrido – Personalização e Tecnologia na Educação.

O principal objetivo da obra é oferecer recursos para que os educadores possam ter exemplos de como organizar suas aulas a partir do modelo hibrido de ensino. Isso é realizado ao inserir a tecnologia como uma forma de personalização das ações de ensino e aprendizagem, contando com a experiência de professores que experimentaram desafios e presenciaram os benefícios dessa inserção no dia a dia da escola.

Conclusão

De maneira geral, os aprendizados decorrentes do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido possibilitaram uma análise sobre a importância de estimular a reflexão por parte do professor sobre a organização da atividade didática. Foi possível concluir que o fato de o professor modificar as estratégias de condução da aula funcionou como disparador de reflexões sobre as relações de ensino e aprendizagem que se estabelecem em sala de aula e, consequentemente, como instrumento de análise e replanejamento de sua prática.

O contexto educacional sofreu e continua sofrendo várias mudanças. Para entender mais sobre o assunto e como lidar com essas alterações no dia a dia da escola, assista ao vídeo:

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Principais referências de estudos do Ensino Híbrido

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adoldo; TREVISANI, Fernando M. Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

HORN, Michael B.; STAKER, Heather. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. [tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro; revisão técnica: Adolfo Tanzi Neto, Lilian Bacich]. Porto Alegre: Penso, 2015.

Site com acesso às videoaulas gratuitas: www.ensinohibrido.org.br

Além disso, o curso está disponível em outras plataformas, como o Coursera e a EFAP (Escola de formação de professores da rede pública do estado de São Paulo).

Fonte: https://www.somospar.com.br/ensino-hibrido/
Foto: freepik

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